\v 1 Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este homem era íntegro e correto, temente a Deus, e que se afastava do mal.
\v 2 E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
\v 3 E seu patrimônio era sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; ele também tinha muitíssimos servos, de maneira que este homem era o maior de todos do oriente.
\s5
\v 4 E seus filhos iam nas casas uns dos outros para fazerem banquetes, cada um em seu dia; e mandavam convidar as suas três irmãs, para que comessem e bebessem com eles.
\v 5 E acontecia que, acabando-se o revezamento dos dias de banquetes, Jó enviava e os santificava, e se levantava de madrugada para apresentar ofertas de queima conforme o número de todos eles. Pois Jó dizia: Talvez meus filhos tenham pecado, e tenham amaldiçoado a Deus em seus corações. Assim Jó fazia todos aqueles dias.
\s5
\v 6 E em certo dia, os filhos de Deus vieram para se apresentarem diante do SENHOR, e Satanás também veio entre eles.
\v 7 Então o SENHOR disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR, dizendo: De rodear a terra, e de passear por ela.
\v 8 E o SENHOR disse a Satanás: Tendes visto meu servo Jó? Pois ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e correto, temente a Deus, e que se afasta de mal.
\s5
\v 9 Então Satanás respondeu ao SENHOR, dizendo: Por acaso Jó teme a Deus em troca de nada?
\v 10 Por acaso tu não puseste uma cerca ao redor dele, de sua casa, e de tudo quanto ele tem? Tu abençoaste o trabalho de suas mãos, e seu patrimônio tem crescido sobre a terra.
\v 11 Mas estende agora tua mão, e toca em tudo quanto ele tem; e verás se ele não te amaldiçoa em tua face.
\v 12 E o SENHOR disse a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em tua mão; somente não estendas tua mão contra ele. E Satanás saiu de diante do SENHOR.
\s5
\v 13 E sucedeu um dia que seus filhos e filhas estavam comendo e bebendo vinho na casa de seu irmão primogênito,
\v 14 Que veio um mensageiro a Jó, que disse: Enquanto os bois estavam arando, e as jumentas se alimentando perto deles,
\v 15 Eis que os sabeus atacaram, e os tomaram, e feriram os servos a fio de espada; somente eu escapei para te trazer a notícia.
\s5
\v 16 Enquanto este ainda estava falando, veio outro que disse: Fogo de Deus caiu do céu, que incendiou as ovelhas entre os servos, e os consumiu; somente eu escapei para te trazer-te a notícia.
\v 17 Enquanto este ainda estava falando, veio outro que disse: Os caldeus formaram três tropas, e atacaram os camelos, e os tomaram, e feriram os servos a fio de espada; somente eu escapei para te trazer a notícia.
\s5
\v 18 Enquanto este ainda estava falando, veio outro que disse: Teus filhos e tuas filhas estavam comendo e bebendo vinho em casa de seu irmão primogênito,
\v 19 E eis que veio um grande vento do deserto, e atingiu os quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; somente eu escapei para te trazer a notícia.
\s5
\v 20 Então Jó se levantou, rasgou sua capa, rapou sua cabeça, e caindo na terra, adorou,
\v 21 E disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu para lá voltarei. O SENHOR deu, e o SENHOR tomou; bendito seja o nome do SENHOR.
\v 22 Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
\s5
\c 2
\v 1 E veio outro dia em que os filhos de Deus vieram para se apresentarem diante do SENHOR, e e Satanás também veio entre eles para se apresentar diante do SENHOR.
\v 2 Então o SENHOR disse a Satanás: De onde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR, e dizendo: De rodear a terra, e de passear por ela.
\s5
\v 3 E o SENHOR disse a Satanás: Tendes visto meu servo Jó? Pois ninguém há semelhante a ele na terra, homem íntegro e correto, temente a Deus e que se afasta do mal; e que ainda mantém sua integridade, mesmo depois de teres me incitado contra ele, para o arruinar sem causa.
\s5
\v 4 Então Satanás respondeu ao SENHOR, dizendo: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem, dará por sua vida.
\v 5 Mas estende agora tua mão, e toca em seus ossos e sua carne, e verás se ele não te amaldiçoa em tua face.
\v 6 E o SENHOR disse a Satanás: Eis que ele está em tua mão; mas preserva sua vida.
\s5
\v 7 Então Satanás saiu de diante do SENHOR, e feriu a Jó de chagas malignas desde a planta de seus pés até a topo de sua cabeça.
\v 8 E Jó tomou um caco para se raspar com ele, e ficou sentado no meio da cinza.
\s5
\v 9 Então sua mulher lhe disse: Ainda manténs a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.
\v 10 Porém ele lhe disse: Tu falas como uma tola. Receberíamos o bem de Deus, e o mal não receberíamos? Em tudo isto Jó não pecou com seus lábios.
\s5
\v 11 Quando três amigos de Jó, Elifaz temanita, Bildade suíta, e Zofar naamita, ouviram todo este mal que lhe tinha vindo sobre ele, vieram cada um de seu lugar; porque haviam combinado de juntamente virem para se condoerem dele, e o consolarem.
\s5
\v 12 Eles, quando levantaram seus olhos de longe, não o reconheceram; e choraram em alta voz; e cada um deles rasgou sua capa, e espalharam pó ao ar sobre suas cabeças.
\v 13 Assim se sentaram com ele na terra durante sete dias e sete noites, e nenhum lhe falava palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.
\s5
\c 3
\v 1 Depois disto Jó abriu sua boca, e amaldiçoou seu dia.
\v 2 Pois Jó respondeu, e disse:
\v 3 Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Um homem foi concebido.
\s5
\v 4 Torne-se aquele dia em trevas; Deus não lhe dê atenção desde acima, nem claridade brilhe sobre ele.
\v 5 Reivindiquem-no para si trevas e sombra de morte; nuvens habitem sobre ele; a escuridão do dia o espante.
\s5
\v 6 Tome a escuridão aquela noite; não seja contada entre os dias do ano, nem faça parte do número dos meses.
\v 7 Ah se aquela noite fosse solitária, e música de alegria não viesse a ela!
\s5
\v 8 Amaldiçoem-na os que amaldiçoam o dia, os que se preparam para levantar seu pranto.
\v 9 Escureçam-se as estrelas de sua manhã; espere a luz, e não venha, e as pálpebras não vejam o amanhecer;
\v 10 Pois não fechou as portas do ventre onde eu estava, nem escondeu de meus olhos o sofrimento.
\s5
\v 11 Por que eu não morri desde a madre, ou perdi a vida ao sair do ventre?
\v 12 Por que joelhos me receberam? E por que seios me amamentaram?
\s5
\v 13 Pois agora eu jazeria e repousaria; dormiria, e então haveria repouso para mim;
\v 14 Com os reis e os conselheiros da terra, que edificavam para si os desertos;
\s5
\v 15 Ou com os príncipes que tinham ouro, que enchiam suas casas de prata.
\v 16 Ou por que não fui como um aborto oculto, como as crianças que nunca viram a luz?
\s5
\v 17 Ali os maus deixam de perturbar, e ali repousam os cansados de forças.
\v 18 Ali os prisioneiros juntamente repousam; e não ouvem a voz do opressor.
\v 19 Ali estão o pequeno e o grande; e o servo livre está de seu senhor.
\s5
\v 20 Por que se dá luz ao sofredor, e vida aos amargos de alma,
\v 21 Que esperam a morte, e ela não chega, e que a buscam mais que tesouros;
\v 22 Que saltam de alegram e ficam contentes quando acham a sepultura?
\s5
\v 23 E também ao homem cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?
\v 24 Pois antes do meu pão vem meu suspiro; e meus gemidos correm como águas.
\s5
\v 25 Pois aquilo eu temia tanto veio a mim, e aquilo que tinha medo me aconteceu.
\v 26 Não tenho tido descanso, nem tranquilidade, nem repouso; mas perturbação veio sobre mim.
\s5
\c 4
\v 1 Então Elifaz o temanita respondeu, dizendo:
\v 2 Se tentarmos falar contigo, ficarás incomodado? Mas quem poderia deter as palavras?
\v 3 Eis que tu ensinavas a muitos, e fortalecias as mãos fracas;
\s5
\v 4 Tuas palavras levantavam aos que tropeçavam, e fortificavas os joelhos que desfaleciam.
\v 5 Mas agora isso que aconteceu contigo, tu te cansas; e quando isso te tocou, te perturbas.
\v 6 Por acaso não era o teu temor a Deus a tua confiança, e a integridade dos teus caminhos tua esperança?
\s5
\v 7 Lembra-te agora, qual foi o inocente que pereceu? E onde os corretos foram destruídos?
\v 8 Como eu tenho visto, os que lavram injustiça e semeiam opressão colhem o mesmo.
\v 9 Com o sopro de Deus eles perecem, e pelo vento de sua ira são consumidos.
\s5
\v 10 O rugido do leão, a voz do leão feroz, e os dentes dos leões jovens são quebrantados.
\v 11 O leão velho perece por falta de presa, e os filhotes da leoa se dispersam.
\s5
\v 12 Uma palavra me foi dita em segredo, e meu ouvidos escutaram um sussurro dela.
\v 13 Em imaginações de visões noturnas, quando o sono profundo cai sobre os homens,
\s5
\v 14 Espanto e tremor vieram sobre mim, que espantou todos os meus ossos.
\v 15 Então um vento passou por diante de mim, que fez arrepiar os pelos de minha carne.
\v 20 Ainda que eu seja justo, minha boca me condenaria; se eu fosse inocente, então ela me declararia perverso.
\s5
\v 21 Mesmo se eu for inocente, não estimo minha alma; desprezo minha vida.
\v 22 É tudo a mesma coisa; por isso digo: ele consome ao inocente e ao perverso.
\v 23 Quando o açoite mata de repente, ele ri do desespero dos inocentes.
\v 24 A terra está entregue nas mãos dos perversos. Ele cobre o rosto de seus juízes. Se não é ele, então quem é?
\s5
\v 25 Meus dias foram mais rápidos que um homem que corre; fugiram, e não viram o bem.
\v 26 Passaram como barcos de papiro, como a águia que se lança à comida.
\s5
\v 27 Se disser: Esquecerei minha queixa, mudarei o aspecto do meu rosto, e sorrirei,
\v 28 Ainda teria pavor de todas as minhas dores; pois sei que não me terás por inocente.
\v 29 Se eu já estou condenado, então para que eu sofreria em vão?
\s5
\v 30 Ainda que me lave com água de neve, e limpe minhas mãos com sabão,
\v 31 Então me submergirias no fosso, e minhas próprias vestes me abominariam.
\s5
\v 32 Pois ele não é homem como eu, para que eu lhe responda, e venhamos juntamente a juízo.
\v 33 Não há entre nós árbitro que ponha sua mão sobre nós ambos,
\s5
\v 34 Tire de sobre mim sua vara, e seu terror não me espante.
\v 35 Então eu falaria, e não teria medo dele. Pois não está sendo assim comigo.
\s5
\c 10
\v 1 Minha alma está cansada de minha vida. Darei liberdade à minha queixa sobre mim; falarei com amargura de minha alma.
\v 2 Direi a Deus: Não me condenes; faz-me saber por que brigas comigo.
\v 3 Parece -te bem que me oprimas, que rejeites o trabalho de tuas mãos, e favoreças o conselho dos perversos?
\s5
\v 4 Tens tu olhos de carne? Vês tu como o ser humano vê?
\v 5 São teus dias como os dias do ser humano, ou teus anos como os anos do homem,
\v 6 Para que investigues minha perversidade, e pesquises meu pecado?
\v 7 Tu sabes que eu não sou mau; todavia ninguém há que me livre de tua mão.
\s5
\v 8 Tuas mãos me fizeram e me formaram por completo; porém agora tu me destróis.
\v 9 Por favor, lembra-te que me preparaste como o barro; e me farás voltar ao pó da terra.
\s5
\v 10 Por acaso não me derramaste como o leite, e como o queijo me coalhaste?
\v 11 De pele e carne tu me vestiste; e de ossos e nervos tu me teceste.
\s5
\v 12 Vida e misericórdia me concedeste, e teu cuidado guardou meu espírito.
\v 13 Porém estas coisas escondeste em teu coração; eu sei que isto esteve contigo:
\v 14 Se eu pecar, tu me observarás, e não absolverás minha culpa.
\s5
\v 15 Se eu for perverso, ai de mim! Mesmo se eu for justo, não levantarei minha cabeça; estou farto de desonra, e de ver minha aflição.
\v 16 Se minha cabeça se exaltar, tu me caças como um leão feroz, e voltas a fazer em coisas extraordinárias contra mim.
\s5
\v 17 Renovas tuas testemunhas contra mim, e multiplicas tua ira sobre mim; combates vêm sucessivamente contra mim.
\s5
\v 18 Por que me tiraste da madre? Bom seria se eu não tivesse respirado, e nenhum olho me visse!
\v 19 Teria sido como se nunca tivesse existido, e desde o ventre materno seria levado à sepultura.
\s5
\v 20 Por acaso não são poucos os meus dias? Cessa pois e deixa-me, para que eu tenha um pouco de alívio,
\v 21 Antes que eu me vá para não voltar, à terra da escuridão e da sombra de morte;
\v 22 Terra escura ao extremo, tenebrosa, sombra de morte, sem ordem alguma, onde a luz é como a escuridão.
\s5
\c 11
\v 1 Então Zofar, o naamita, respondeu, dizendo:
\v 2 Por acaso a multidão de palavras não seria respondida? E o homem falador teria razão?
\v 3 Por acaso tuas palavras tolas faria as pessoas se calarem? E zombarias tu, e ninguém te envergonharia?
\s5
\v 4 Pois disseste: Minha doutrina é pura, e eu sou limpo diante de teus olhos.
\v 5 Mas na verdade, queria eu que Deus falasse, e abrisse seus lábios contra ti,
\v 6 E te fizesse saber os segredos da sabedoria, porque o verdadeiro conhecimento tem dois lados; por isso sabe tu que Deus tem te castigado menos que mereces por tua perversidade.
\s5
\v 7 Podes tu compreender os mistérios de Deus? Chegarás tu à perfeição do Todo-Poderoso?
\v 8 Sua sabedoria é mais alta que os céus; que poderás tu fazer? E mais profunda que o mundo dos mortos; o que podes tu saber?
\v 9 Sua medida é mais comprida que a terra, e mais larga que o mar.
\v 10 Entre nós também há os que tenham cabelos grisalhos, também há os que são muito mais idosos que teu pai.
\v 11 Por acaso as consolações de Deus te são poucas? As mansas palavras voltadas a ti?
\s5
\v 12 Por que o teu coração te arrebata, e por que centelham teus olhos,
\v 13 Para que vires teu espírito contra Deus, e deixes sair tais tais palavras de tua boca?
\v 14 O que é o homem, para que seja puro? E o nascido de mulher, para que seja justo?
\s5
\v 15 Eis que Deus não confia em seus santos, nem os céus são puros diante de seus olhos;
\v 16 Quanto menos o homem, abominável e corrupto, que bebe a maldade como água?
\s5
\v 17 Escuta-me; eu te mostrarei; eu te contarei o que vi.
\v 18 (O que os sábios contaram, o que não foi encoberto por seus pais,
\s5
\v 19 A somente os quais a terra foi dada, e estranho nenhum passou por meio deles):
\v 20 Todos os dias do perverso são sofrimento para si, o número de anos reservados ao opressor.
\v 21 Ruídos de horrores estão em seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém o assolador.
\s5
\v 22 Ele não crê que voltará da escuridão; ao contrário, a espada o espera.
\v 23 Anda vagueando por comida, onde quer que ela esteja. Ele sabe que o dia das trevas está prestes a acontecer.
\v 24 Angústia e aflição o assombram, e prevalecem contra ele como um rei preparado para a batalha;
\s5
\v 25 Porque ele estendeu sua mão contra Deus, e se embraveceu contra o Todo-Poderoso,
\v 26 Corre contra ele com dureza de pescoço, e como seus escudos grossos e levantados.
\s5
\v 27 Porque cobriu seu rosto com sua gordura, e engordou as laterais de seu corpo.
\v 28 E habitou em cidades desoladas cidades, em casas desabitadas; que estavam prestes a desmoronar.
\s5
\v 29 Ele não enriquecerá, nem seu patrimônio subsistirá, nem suas riquezas se estenderão pela terra.
\v 30 Não escapará das trevas; a chama secará seus ramos, e ao sopro de sua boca desparecerá.
\s5
\v 31 Não confie ele na ilusão para ser enganado; pois a sua recompensa será nada.
\v 32 Não sendo ainda seu tempo, ela se cumprirá; e seu ramo não florescerá.
\v 33 Sacudirá suas uvas antes de amadurecerem como a vide, e derramará sua flor como a oliveira.
\s5
\v 34 Pois a ajuntamento dos hipócritas será estéril, e fogo consumirá as tendas do suborno.
\v 35 Eles concebem a maldade, e dão à luz a perversidade; e o ventre deles prepara enganos.
\s5
\c 16
\v 1 Porém Jó respondeu, dizendo:
\v 2 Ouvi muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores miseráveis.
\v 3 Por acaso terão fim as palavras de vento? Ou o que é que te provoca a responderes?
\s5
\v 4 Também eu poderia falar como vós, se vossa alma estivesse no lugar da minha alma; eu poderia amontoar palavras contra vós, e contra vós sacudir minha cabeça.
\v 5 Porém eu vos confortaria com minha boca, e a consolação de meus lábios serviria para aliviar.
\s5
\v 6 Ainda que eu fale, minha dor não cessa; e se eu me calar, em que me alivio?
\v 7 Na verdade agora ele me tornou exausto; tu assolaste toda a minha companhia.
\v 16 Deus enfraqueceu meu coração; o Todo-Poderoso tem me perturbado.
\v 17 Pois não estou destruído por causa das trevas, nem por causa da escuridão que encobriu meu rosto.
\s5
\c 24
\v 1 Por que os tempos não são marcados pelo Todo-Poderoso? Por que os que o conhecem não veem seus dias?
\s5
\v 2 Há os que mudam os limites de lugar, roubam rebanhos, e os apascentam.
\v 3 Levam o asno do órfão; penhoram o boi da viúva.
\v 4 Desviam do caminho aos necessitados; os pobres da terra juntos se escondem.
\s5
\v 5 Eis que como asnos selvagens no deserto eles saem a seu trabalho buscando insistentemente por comida; o deserto dá alimento a ele e a seus filhos.
\v 6 No campo colhem sua forragem, e vindimam a vinha do perverso.
\v 7 Passam a noite nus, por falta de roupa; sem terem coberta contra o frio.
\s5
\v 8 Pelas correntes das montanhas são molhados e, não tendo abrigo, abraçam-se às rochas.
\v 9 Há os que arrancam ao órfão do peito, e do pobre tomam penhor.
\v 10 Ao nus fazem andar sem vestes, e fazem os famintos carregarem feixes.
\s5
\v 11 Entre suas paredes espremem o azeite; pisam os lagares, e ainda têm sede.
\v 12 Desde a cidade as pessoas gemem, e as almas dos feridos clamam; Mas Deus não dá atenção ao erro.
\s5
\v 13 Há os que se opõem à luz; não conhecem seus caminhos, nem permanecem em suas veredas.
\v 14 De manhã o homicida se levanta, mata ao pobre e ao necessitado, e de noite ele age como ladrão.
\s5
\v 15 O olho do adúltero aguarda o crepúsculo, dizendo: Olho nenhum me verá; E esconde seu rosto.
\v 16 Nas trevas vasculham as casas, de dia eles se trancam; não conhecem a luz.
\v 17 Porque a manhã é para todos eles como sombra de morte; pois são conhecidos dos pavores de sombra de morte.
\s5
\v 18 Ele é ligeiro sobre a superfície das águas; maldita é sua porção sobre a terra; não se vira para o caminho das vinhas.
\v 19 A seca e o calor desfazem as águas da neve; assim também o mundo dos mortos faz aos que pecaram.
\v 34 Porque eu tinha medo da grande multidão, e o desprezo das famílias me atemorizou; então me calei, e não saí da porta:
\s5
\v 35 Quem me dera se alguém me ouvisse! Eis que minha vontade é que o Todo-Poderoso me responda, e meu adversário escrevesse um relato da acusação.
\v 36 Certamente eu o carregaria sobre meu ombro, e o poria em mim como uma coroa.
\v 37 Eu lhe diria o número de meus passos, e como um príncipe eu me chegaria a ele.
\s5
\v 38 Se minha terra clamar contra mim, e seus sulcos juntamente chorarem;
\v 39 Se comi seus frutos sem pagar dinheiro, ou fiz expirar a alma de seus donos;
\v 40 Em lugar de trigo que me produza cardos, e ervas daninhas no lugar da cevada. Aqui terminam as palavras de Jó.
\s5
\c 32
\v 1 Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó, porque ele era justo em seus olhos.
\v 2 Porém se acendeu a ira de Eliú, filho de Baraquel, buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu sua ira, porque justificava mais a si mesmo que a Deus.
\s5
\v 3 Também sua ira se acendeu contra seus três amigos, porque não achavam o que responder, ainda que tinham condenado a Jó.
\v 4 E Eliú tinha esperado a Jó naquela discussão, porque tinham mais idade que ele.
\v 5 Porém quando Eliú viu que não havia resposta na boca daqueles três homens, sua ira se acendeu.
\s5
\v 6 Por isso Eliú, filho de Baraquel, buzita, respondeu, dizendo: Eu sou jovem e vós sois idosos; por isso fiquei receoso e tive medo de vos declarar minha opinião.
\v 7 Eu dizia: Os dias falem, e a multidão de anos ensine sabedoria.
\s5
\v 8 Certamente há espírito no ser humano, e a inspiração do Todo-Poderoso os faz entendedores.
\v 9 Não são somente os grandes que são sábios, nem somente os velhos entendem o juízo.
\v 10 Por isso eu digo: escutai-me; também eu declararei minha opinião.
\s5
\v 11 Eis que eu aguardei vossas palavras, e dei ouvidos a vossas considerações, enquanto vós buscáveis argumentos.
\v 12 Eu prestei atenção a vós, porém eis que ninguém há de vós que possa convencer a Jó, nem que responda a suas palavras.
\s5
\v 13 Portanto não digais: Encontramos a sabedoria; que Deus o derrote, e não o homem.
\v 14 Jó não dirigiu suas palavras a mim, nem eu lhe responderei com vossos dizeres.
\s5
\v 15 Estão pasmos, não respondem mais; faltam-lhes palavras.
\v 16 Esperei, pois, porém agora não falam; porque já pararam, e não respondem mais.
\s5
\v 17 Também eu responderei minha parte; também eu declararei minha opinião.
\v 18 Porque estou cheio de palavras, e o espírito em meu ventre me obriga.
\v 19 Eis que meu ventre é como o vinho que não tem abertura; e que está a ponto de arrebentar como odres novos.
\s5
\v 20 Falarei, para que eu me alivie; abrirei meus lábios, e responderei.
\v 21 Não farei eu acepção de pessoas, nem usarei de títulos lisonjeiros para com o homem.
\v 14 A alma deles morrerá em sua juventude, e sua vida entre os pervertidos.
\s5
\v 15 Ele livra o aflito de sua aflição, e na opressão ele revela a seus ouvidos.
\v 16 Assim também ele pode te desviar da boca da angústia para um lugar amplo, onde não haveria aperto; para o conforto de tua mesa, cheia dos melhores alimentos.
\s5
\v 17 Mas tu estás cheio do julgamento do perverso; o julgamento e a justiça te tomam.
\v 18 Por causa da furor, guarda-te para que não sejas seduzido pela riqueza, nem que um grande suborno te faça desviar.
\s5
\v 19 Pode, por acaso, a tua riqueza te sustentar para que não tenhas aflição, mesmo com todos os esforços de teu poder?
\v 20 Não anseies pela noite, em que os povos são tomados de seu lugar.
\v 21 Guarda-te, e não te voltes para a maldade; pois por isto que tens sido testado com miséria.
\s5
\v 22 Eis que Deus é exaltado em seu poder; que instrutor há como ele?
\v 23 Quem lhe indica o seu caminho? Quem poderá lhe dizer: Cometeste maldade?
\v 24 Lembra-te de engrandeceres sua obra, a qual os seres humanos contemplam.
\s5
\v 25 Todas as pessoas a veem; o ser humano a enxerga de longe.
\v 26 Eis que Deus é grande, e nós não o compreendemos; não se pode descobrir o número de seus anos.
\s5
\v 27 Ele traz para cima as gotas das águas, que derramam a chuva de seu vapor;
\v 28 A qual as nuvens destilam, gotejando abundantemente sobre o ser humano.
\v 29 Poderá alguém entender a extensão das nuvens, e os estrondos de seu pavilhão?
\s5
\v 30 Eis que estende sobre ele sua luz, e cobre as profundezas do mar.
\v 31 Pois por estas coisas ele julga aos povos, e dá alimento em abundância.
\s5
\v 32 Ele cobre as mãos com o relâmpago, e dá ordens para que atinja o alvo.
\v 33 O trovão anuncia sua presença; o gado também prenuncia a tempestade que se aproxima.
\s5
\c 37
\v 1 Disto também o meu coração treme, e salta de seu lugar.
\v 2 Ouvi atentamente o estrondo de sua voz, e o som que sai de sua boca,
\v 3 Ao qual envia por debaixo de todos os céus; e sua luz até os confins da terra.
\s5
\v 4 Depois disso brama com estrondo; troveja com sua majestosa voz; e ele não retém seus relâmpagos quando sua voz é ouvida.
\v 5 Deus troveja maravilhosamente com sua voz; ele faz coisas tão grandes que nós não compreendemos.
\v 6 Pois ele diz à neve: Cai sobre à terra; Como também à chuva: Sê chuva forte.
\s5
\v 7 Ele sela as mãos de todo ser humano, para que todas as pessoas conheçam sua obra.
\v 8 E os animais selvagens entram nos esconderijos, e ficam em suas tocas.
\v 9 Da recâmara vem o redemoinho, e dos ventos que espalham vem o frio.
\s5
\v 10 Pelo sopro de Deus se dá o gelo, e as largas águas se congelam.
\v 11 Ele também carrega de umidade as espessas nuvens, e por entre as nuvens ele espalha seu relâmpago.
\s5
\v 12 Então elas se movem ao redor segundo sua condução, para que façam quanto ele lhes manda sobre a superfície do mundo, na terra;
\v 13 Seja que ou por vara de castigo, ou para sua terra, ou por bondade as faça vir.
\s5
\v 14 Escuta isto, Jó; fica parado, e considera as maravilhas de Deus.
\v 15 Por acaso sabes tu quando Deus dá ordem a elas, e faz brilhar o relâmpago de sua nuvem?
\s5
\v 16 Conheces tu os equilíbrios das nuvens, as maravilhas daquele que é perfeito no conhecimento?
\v 17 Tu, cujas vestes se aquecem quando a terra se aquieta por causa do vento sul,
\s5
\v 18 acaso podes estender com ele os céus, que estão firmes como um espelho fundido?
\v 19 Ensina-nos o que devemos dizer a ele; pois discurso nenhum podemos propor, por causa das nossas trevas.
\v 20 Seria contado a ele o que eu haveria de falar? Por acaso alguém falaria para ser devorado?
\s5
\v 21 E agora não se pode olhar para o sol, quando brilha nos céus, quando o vento passa e os limpa.
\v 22 Do norte vem o esplendor dourado; em Deus há majestade temível.
\s5
\v 23 Não podemos alcançar ao Todo-Poderoso; ele é grande em poder; porém ele a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça.
\v 24 Por isso as pessoas o temem; ele não dá atenção aos que se acham sábios de coração.
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\c 38
\v 1 Então o SENHOR respondeu a Jó desde um redemoinho, e disse:
\v 2 Quem é esse que obscurece o conselho com palavras sem conhecimento?
\v 3 Agora cinge teus lombos como homem; e eu te perguntarei, e tu me explicarás.
\v 3 Tu dizes: Quem é esse que obscurece o conselho sem conhecimento? Por isso eu falei do que não entendia; coisas que eram maravilhosas demais para mim, e eu não as conhecia.
\v 4 Escuta-me, por favor, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensina.
\v 5 Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora meus olhos te veem.
\v 6 Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.
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\v 7 E sucedeu que, depois que o SENHOR acabou de falar essas palavras a Jó, o SENHOR disse a Elifaz temanita: Minha ira se acendeu contra ti e contra teus dois amigos; porque não falastes de mim o que era correto, como meu servo Jó.
\v 8 Por isso tomai para vós sete bezerros e sete carneiros, ide a meu servo Jó, e fazei ofertas de queima em vosso favor, e meu servo Jó orará por vós; pois certamente atenderei a ele para eu não vos tratar conforme vossa loucura; pois não falastes de mim o que era correto, como meu servo Jó.
\v 9 Então Elifaz o temanita, Bildade o suíta, e Zofar o naamita foram, e fizeram como o SENHOR havia lhes dito; e o SENHOR atendeu a Jó.
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\v 10 E o SENHOR deu fim à aflição de Jó, enquanto ele orava por seus amigos; e o SENHOR acrescentou a Jó o dobro de tudo quanto ele tinha antes.
\v 11 Então vieram e ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos os que o conheciam antes; e comeram com ele pão em sua casa, e condoeram-se dele, e o consolaram acerca de toda a calamidade que o SENHOR tinha trazido sobre ele; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e uma argola de ouro.
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\v 12 E assim o SENHOR abençoou o último estado de Jó mais que o seu primeiro; porque teve catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois, e mil asnas.
\v 13 Também teve sete filhos e três filhas.
\v 14 E chamou o nome da uma Jemima, e o nome da segunda Quézia, e o nome da terceira Quéren-Hapuque.
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\v 15 E em toda a terra não se acharam mulheres tão belas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos.
\v 16 E depois disto Jó viveu cento e quarenta anos; e viu seus filhos, e os filhos de seus filhos, até quatro gerações.